natureza política

O Grupo de Pesquisa natureza política, sediado na Escola de Arquitetura da UFMG, liderado pelas professoras Marcela Brandão e Luciana Bragança, é composto por pesquisadores de diversos campos do conhecimento, que desenvolvem suas atividades buscando a articulação da teoria com a prática e o fortalecimento do tripé da universidade pública brasileira: ensino, pesquisa e extensão.

O nome natureza política carrega duas conotações. Uma delas traz para a cena a discussão sobre a carga política de todos os conflitos e a não-neutralidade das investigações do grupo, o que não exclui uma abertura ao contingente e ao imprevisível. A segunda conotação foca no conceito da natureza, que não é natural ou apartado da vida comum.

Para nós, em tempos de antropoceno, a natureza é uma companheira e não um objeto a ser preservado ou explorado. É um aliado político, numa captura recíproca criada tanto por reconhecimento como por ser ativa. Entendendo que há outras cosmopercepções, seguimos no desafio da cosmopolítica de entender o mundo com muitos mundos, construindo alianças.

Deste modo, nossos referenciais incorporam discussões sobre o poder como relação e os dispositivos acionados na produção de subjetividade no contexto neoliberal.

Nossa intenção é explorar formas de emancipação, a produção de imaginários radicais, o comum e a práxis instituinte.

Interessa-nos o debate decolonial, a partir do qual as r-existências e os possíveis são conceitos alicerçados em práticas e ações cotidianas em curso nos territórios. E os projetos multiespécie são pensados a partir de assembleias onde os não-humanos são sujeitos de um mundo multiespécies.

Essas discussões nos convocam não apenas a fazer um giro epistemológico, mas também uma ampliação do escopo metodológico vigente,  tendo em vista que a articulação entre pesquisa e extensão resulta, muitas vezes, em parcerias junto a territórios populares sob conflitos socioambientais, que se efetivam por meio de práticas de assessoria técnica implicadas e situadas, cujo horizonte são cidades mais justas e ecológicas.

Para tal, o Grupo natureza política recorre à cartografia, às narrativas e entrevistas de caráter etnográfico, à observação participante, incorporando instrumentos de investigação e intervenção capazes de conectar teoria e prática, pesquisa e ação, sujeitos e objetos. Esse deslocamento exige também que o grupo busque articular linguagens técnicas e poéticas, a partir de representações gráficas e audiovisuais que sejam acessíveis ao campo acadêmico e não acadêmico.

notícias

Convidamos a todxs a participar do lI Seminário Internacional do Natureza Política que ocorrerá em duas etapas. A primeira será o evento “Cosmopolíticas: práticas em movimento”, e a segunda etapa será o “Assessorias Populares: práticas

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linguagens técnicas e poéticas

As significações imaginárias e simbólicas sobre o que sejam “cidades mais justas e sustentáveis” são diversas e atravessadas pelos valores instituídos. Para ampliar tais significações é preciso acionar linguagens diversas, oriundas dos campos técnicos e poéticos.

narrativas

Para um mesmo fato, surge mais de uma narrativa que explica/justifica tal fato, ou seja, há muitas figurações que precisam ser expandidas, antes que se faça uma separação precoce do que possa ser falso ou verdadeiro, exato ou figurativo. A partir da diversidade de narrativas, orbitam atores humanos e não-humanos diversos, antagônicos ou não.

cartografia

A cartografia como metodologia assume a pesquisa como dispositivo de intervenção, produtora de acontecimentos abertos à imprevisibilidade da ação.


O movimento alternado do observador-pesquisador, ora em direção ao processo que pretende analisar, ora se afastando dele, desestabiliza a separação entre sujeito e objeto, tornando sujeitos políticos tudo e todos os envolvidos nos processos, com vozes e saberes a serem compartilhados, e, por isso, passíveis de transformação.

assessoria técnica

Várias atividades extensionistas desenvolvidas pelo Natureza Política se aproximam das práticas de Assessoria Técnica, na medida em que demandas socioespaciais são trazidas por moradores e/ou lideranças comunitárias. Contudo, essas demandas são sempre problematizadas, tendo em vista a sua articulação à pesquisa e à produção de uma ciência viva e engajada socialmente, na fricção do erudito e do popular, resultando em um conjunto de técnicas e procedimentos coletivamente acordados, que visa a inclusão social e a justiça ambiental.

giro epistemológico

O chamado “giro espacial” é identificado a partir de uma mudança de ênfase da dimensão temporal para a dimensão espacial da sociedade, mudança esta ocorrida, aproximadamente, a partir do início da década de 1980 em termos da reflexão teórica, mas com raízes concretas que remontam aos movimentos culturais e eco lógicos dos anos 1960-70. O termo “giro decolonial” foi “cunhado originalmente por Nelson Maldonado-Torres em 2005” e “basicamente significa o movimento de resistência teórico e prático, político e epistemológico, à lógica da modernidade/colonialidade.

(HAESBAERT)

práxis instituinte

A única práxis emancipadora é aquela que faz do comum a nova significação do imaginário social. Isso significa também que o comum, […], sempre pressupõe uma instituição aberta para a sua história, […], para tudo aquilo que funcione como o seu inconsciente.

(Dardot&Laval, 2016, p.368)

comum

O comum deve ser pensado como co-atividade (…) somente a atividade prática dos homens pode tornar as coisas comuns (…), pode produzir um novo sujeito coletivo.

Se existe “universalidade”, só pode ser trata-se de uma universalidade prática.

(Dardot&Laval, 2016, p.40)

imaginários radicais

A história é impossível e inconcebível fora da imaginação produtiva ou criadora, do que nós chamamos imaginário radical tal como se manifesta ao mesmo tempo e indissoluvelmente no fazer histórico, e na constituição, antes de qualquer racionalidade explícita, de um universo de significações.

(Castoriadis, 1982, p.176)

emancipação

A emancipação advém tanto da compreensão dos mecanismos de poder e sujeição, quanto da destituição da forma de agência que tais mecanismos pressupõe (…) A emancipação é uma deposição do saber, é uma decomposição da voz e a instauração de uma nova gramática de poder na vida social.


(SAFATLE)

dispositivos

“Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo”


(Foucault, 2015, p.364)

poder

O poder tem que ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia.


(FOUCAULT)